O retorno dos anônimos em Passado Próximo, de Primo Levi

Nome: ELAINE DA SILVA ALVES DE ALMEIDA

Data de publicação: 06/08/2025

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
FABIOLA SIMAO PADILHA TREFZGER Presidente
LUCIA WATAGHIN Examinador Externo
MARIA MIRTIS CASER Examinador Interno

Resumo: Na confluência entre memória e ficção, entre testemunho e imaginação literária, situase a presente pesquisa, que se debruça sobre os doze contos da seção “Passato
prossimo”, do livro Lilit ed altri racconti, de Primo Levi. Em meio à recepção crítica que
privilegia suas obras testemunhais, a dimensão ficcional de sua produção permanece,
não raro, à margem. No entanto, são justamente esses contos, construídos à sombra
da experiência no Lager, que abrem espaço para uma reflexão profunda sobre o que
significa lembrar, dar forma e palavra àquilo que, muitas vezes, não pôde ser dito. A
motivação desta investigação nasce, assim, de um paradoxo: como a ficção pode se
tornar um meio legítimo e potente de rememoração do passado traumático? Em que
medida ela permite o retorno de vozes silenciadas, de figuras anônimas que não
sobreviveram ou que nunca puderam testemunhar? Longe de opor-se ao testemunho,
a ficcionalização em “Passato prossimo” revela-se como uma forma de escuta, de
reelaboração e de transmissão que se ancora no compromisso ético com a memória
dos outros. Por meio de uma abordagem bibliográfica e interdisciplinar, que entrelaça
literatura, história e teoria crítica, esta pesquisa mobiliza contribuições de Walter
Benjamin (1994), Giorgio Agamben (2008), Régine Robin (2016), Márcio SeligmannSilva (2003, 2010 e 2022), Beatriz Sarlo (2007) e Jeanne Marie Gagnebin (2018), entre
outros, para refletir sobre as implicações éticas de representar o irrepresentável. A
análise dos contos é guiada por cinco eixos temáticos – a vida e a sobrevivência no
Lager, a desumanização e a perda da identidade, a solidariedade e a ajuda mútua, a
memória e a necessidade de testemunhar, a linguagem como ferramenta de
sobrevivência – que iluminam as estratégias narrativas com as quais Levi constrói
uma linguagem literária capaz de dar forma à ausência. O que emerge dessa leitura
é a percepção de que a ficção, longe de ser uma distorção ou um desvio da verdade
histórica, torna-se um modo singular de lidar com a memória do trauma. Ao oferecer
uma linguagem àquilo que escapou aos registros oficiais, Levi não apenas restitui
humanidade às figuras esquecidas da história, mas propõe uma reescritura
benjaminiana da memória, onde cada fragmento resgatado desafia o apagamento e
resiste ao esquecimento. Assim, “Passato prossimo” se afirma como uma obra que,
ao ficcionalizar o testemunho, cumpre um dever ético: manter viva a lembrança dos
que não puderam falar e nos convocar, ainda hoje, à escuta.

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