À ESCUTA DO VIVENTE: ANIMALIDADE E BIOPOLÍTICA EM CLARICE LISPECTOR
Nome: EVANDRO RAMOS DE SANTANNA JUNIOR
Data de publicação: 01/12/2023
Banca:
Nome | Papel |
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FABIOLA SIMAO PADILHA TREFZGER | Examinador Interno |
JÚLIO CESAR VALLADÃO DINIZ | Examinador Externo |
LUCIANA IRENE SASTRE | Examinador Externo |
RAFAELA SCARDINO LIMA PIZZOL | Coorientador |
SERGIO DA FONSECA AMARAL | Presidente |
Páginas
Resumo: Esta tese compreende que uma leitura atenta às relações entre o humano e o animal no conjunto
ficcional de Clarice Lispector aponta que a vida animal ocupa em suas narrativas um espaço
que vai além de campos simbólicos e representativos, atuando como um signo político que
tensiona as formas por meio das quais apreendemos o mundo e nos relacionamos com o outro.
Analisa-se, nesse sentido, considerando as contribuições teóricas de Marília Librandi e Jean-
Luc Nancy, de que maneira o animal e o humano são alocados na tessitura ficcional de Clarice
Lispector, com atenção especial à convocação que a autora opera, via escrita, a um exercício de
escuta capaz de acionar naqueles(as) que se defrontam com seu texto uma abertura legítima à
alteridade em sua forma radical. Tendo como base teóricas Rosi Braidotti, Maria Cristina
Veloso e Juliana Fausto, investiga-se como, ao longo dos séculos no mundo ocidental, a
separação hierárquica humano-animal foi constituída e de que modo a escrita clariceana coloca
problemas para essa separação. Considera-se, ademais, com o auxílio de Gabriel Giorgi,
Claudete Daflon e Anibal Quijano, em que medida a animalidade inscrita no tecido narrativo
de Clarice Lispector lança luz sobre um panorama biopolítico e colonial que viola vidas
humanas compreendidas como menos-que-humanas. Expondo que a cisão humano-animal
produz também os enquadramentos que determinam quais vidas são matáveis e quais vidas são
dignas de viver bem, aponta-se, em conversa com Judith Butler e Jacques Derrida, para o fato
de a produção narrativa de Clarice Lispector colocar em destaque a precariedade como
elemento que perpassa a todos(as), sem distinção de espécie, frisando que o exercício do luto e
da disponibilidade para o outro, quando acionados sem modulações hierárquicas, configura um
gesto capaz de fissurar os ditames biopolíticos sustentados sobre uma organização social
centrada na figura humana.