Imitação e exílio na poesia didática de Rafael Landívar e de José Rodrigues de Melo
Nome: ROBERTO GONORING D'ASSUMPÇÃO SILVA
Data de publicação: 12/03/2024
Banca:
Nome | Papel |
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ADRIANA VAZQUEZ | Examinador Externo |
LENI RIBEIRO LEITE | Presidente |
MATHEUS TREVIZAM | Examinador Externo |
Resumo: Dentro dos numerosos exemplos de escrita de poesia didática dentro da Companhia de Jesus
nos séculos XVII e XVIII, tomamos duas obras deste contexto que, produzidas na Itália,
cantam a América em seus versos, De Rusticis Brasiliae Rebus (1799) de José Rodrigues de
Melo e Rusticatio Mexicana (1781) de Rafael Landívar, como objetos de estudo a fim de
oferecer uma leitura com enfoque em alguns de seus aspectos constitutivos. Tanto Melo
quanto Landívar, além de terem passado pelo curriculum educativo da ordem, baseado na
Ratio Studiorum, foram exilados das Américas quando da Supressão da Companhia de Jesus
das terras das Coroas portuguesa e espanhola, respectivamente. Considerando tais
semelhanças, buscamos, por um lado, contemplar as obras segundo preceitos e expectativas
literárias fundamentados na retórica, a fim de promover uma leitura não anacrônica de um
gênero literário que se tornou moribundo desde o século XIX, e, por outro lado,
constantemente contrastar as escolhas poéticas feitas por cada autor, notando suas
semelhanças e diferenças. Nesse processo, portanto, toma-se a leitura jesuítica da retórica
clássica, baseada em Cícero e em Quintiliano e operando através da imitação de modelos e
tópoi, como a teoria poética prática cujo papel ela desempenhava na Primeira Modernidade.
Com tal aparato teórico básico, o trabalho discorre, primeiramente, sobre como a formação de
seus autores como padres jesuítas, com toda a bagagem disponibilizada a eles pelo
curriculum da Ratio Studiorum, influenciou os temas e as escolhas estilísticas quanto à
tradição da poesia didática; em segundo lugar, como e para quais finalidades persuasivas os
poetas figuram o dado biográfico de terem sido exilados das Américas; e, finalmente, como
Melo e de Landívar se diferem um do outro quanto à linguagem e estrutura de seus poemas
didáticos, bem como quais os efeitos à construção da imagem do poeta causados por tais
diferenças. O que observamos nas obras é uma constante transformação tanto da estrutura
quanto da matéria de poemas didáticos tanto da Antiguidade quanto contemporâneos aos
autores, especialmente no que toca à presença de um endereçado, o teor instrutivo através de
verbos imperativos e preceptivas técnicas em oposição a uma linguagem narrativa ou
descritiva, a qualificação do agricultor que trabalha arduamente no cenário representado e a
apresentação do éthos da voz que canta o poema. Como desenvolvemos, apesar de cada um
dos dois poetas utilizar mecanismos diferentes para tratar dos aspectos supracitados, ambos
coincidem em argumentar, de modo sutil, contra a expulsão dos jesuítas das Américas,
buscando demonstrar os benefícios trazidos pelos membros da ordem ao continente
Palavras-Chave: José Rodrigues de Melo. Rafael Landívar. Poesia Didática. Jesuíta. Retórica
jesuítica.