Os negros cabindas, os mais inteligentes e os mais bonitos": uma análise comparativo-tematológica entre Provérbios de Carolina Maria de Jesus e provérbios da filosofia tradicional de Cabinda.

Nome: LEONARDO LUCIO VIEIRA MACHADO

Data de publicação: 23/11/2023

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ARLENE BATISTA DA SILVA Presidente
MICHELE FREIRE SCHIFFLER Examinador Interno
MÔNICA SALDANHA DALCOL Examinador Externo
RAFFAELLA ANDREA FERNANDEZ Examinador Externo
RUI JOÃO BAPTISTA SOARES Examinador Externo

Páginas

Resumo: A tese “‘Os negros cabindas, os mais inteligentes e os mais bonitos’: uma análise comparativo-tematológica entre Provérbios de Carolina Maria de Jesus e provérbios da filosofia tradicional de Cabinda” resgata o livro Provérbios (s/d), a quarta e última
publicação em vida da escritora brasileira Carolina Maria de Jesus, e confere seu conteúdo com os provérbios daquela região registrados pelo padre espiritano José Martins Vaz (1970a). O objetivo principal desta investigação foi analisar as diferentes
vozes que se entrelaçam, se sobrepõem e se enredam nessas construções literárias, explorando seus interesses, expressões culturais e reflexos dos complexos temáticos sociais presentes em cada contexto. Como metodologia, recorremos à
Tematologia, área da Literatura Comparada na perspectiva de Brunel et alii (2012), e à Paremiologia, disciplina voltada ao estudo dos provérbios, com destaque para o Sistema Internacional de Tipos de Provérbios de Matti Kuusi, conforme Lauhakangas
(2001). Como resultado, descobrimos que das 639 parêmias carolinianas, 490 (ou 76,7% da sua obra) são distribuídas nas seguintes temáticas: “D. O mundo e a vida humana” (97), “F. Conceitos de moralidade” (97), “H. Interação social” (87), “K. Posição social” (87), “M. Enfrentando e aprendendo” (68) e “C. Observações básicas e sociológicas” (54), sendo seu favoritismo pela tópica do Subgrupo Temático “F1a. Critérios éticos do bem e do mal”, com 29 provérbios (4,5% da obra). Pareados, os Temas Principais dos provérbios da autora mineira e os do oeste da África têm 52,6% de equivalência. Quando comparadas as temáticas, enquanto o interesse dos
provérbios de Carolina é por questões de reflexão pessoal e de motivação à cooperação numa perspectiva mais filosófica, o interesse de Cabinda é por questões mais práticas e resolutivas a partir de situações do cotidiano. Das expressões culturais, a escritora brasileira recorre às locuções mais especulativas e subjetivas (ex.: “água de pântano”, “Hitler [...] ministro da morte”), ao passo que no território africano trabalhos manuais e itens culinários compõem a estilística (“cortar lenha”, “muamba”). Dos reflexos dos complexos temáticos sociais, as condições de desigualdade e ausência do governo em políticas de bem-estar social são uma
constante nos provérbios de Carolina, enquanto a recolha de Cabinda frisa a necessidade de obediência às autoridades e à tradição. Com base nos referenciais teóricos e debatedores do Complexo Temático, consideramos a hipótese de enviesamento político-religioso nas parêmias coletadas por Vaz (1970a), voltadas para uma ancestralidade sócio-histórica sob pretexto etnográfico, em detrimento dos acontecimentos do período da recolha: movimentos anticoloniais em toda África, em especial na então província ultramarina contra o regime de Salazar. Esperamos que esta pesquisa contribua não só com outros ângulos de observação sobre a escrita proverbial de Carolina, e por extensão sobre Cabinda, mas também que marque o lugar da autora no mapa nacional e mundial dos estudos paremiológicos.

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