Metáforas do Corpo nas Saturae de Aulo Pérsio Flaco
Nome: MARIHÁ BARBOSA E CASTRO
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 18/02/2020
Orientador:
Nome | Papel |
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LENI RIBEIRO LEITE | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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FÁBIO DA SILVA FORTES | Examinador Externo |
FÁBIO DUARTE JOLY | Suplente Externo |
LENI RIBEIRO LEITE | Orientador |
PAULO ROBERTO SODRÉ | Examinador Interno |
RAIMUNDO NONATO BARBOSA DE CARVALHO | Examinador Interno |
Páginas
Resumo: As Sátiras de Aulo Pérsio Flaco são muitas vezes caracterizadas como uma das obras mais obscuras da literatura romana. A tradição, recorrentemente, leu a complexidade dos poemas como uma estratégia para criticar veladamente o governo de Nero. A hipótese de que as sátiras enderecem críticas ao princeps é verossímil, pois muitos dos vícios atacados pela persona satírica são os apontados por Tácito em sua narrativa sobre Nero; mas, cônscios de que essa leitura se apoia em grande parte em paratextos como a Vita Persii, provavelmente escrita no século IV, e de que o testemunho de Tácito está circunscrito dentro do contexto político da dinastia flaviana, acreditamos que não é possível assegurar que de fato Pérsio atacou o princeps em seus versos. A tradição também explicou a obscuridade como sendo resultado da inépcia do jovem autor, ainda que os textos mais próximos do primeiro contexto de circulação das Sátiras sequer mencionem sua obscuridade e ainda chamem a atenção para a popularidade do poeta. Nossa hipótese é de que a obscuridade seja programática em Pérsio, ainda que possa ter sido intensificada em função da perda de referenciais importantes para a compreensão dos poemas, e que ela se deve, sobretudo, às metáforas densas que encontramos ao longo da obra. Entre as metáforas utilizadas pelo autor, chamam especial atenção aquelas associadas ao corpo humano e suas funções fisiológicas, que são muitas vezes construídas a partir da apropriação do discurso médico pelo discurso filosófico de cunho estoico. O corpus deste trabalho é constituído de um conjunto de metáforas que extrapolam o uso cotidiano e assinalam a inventividade do poeta para criar novos sentidos. A metáfora em Pérsio se afasta das prescrições aristotélicas, ecoadas por autores romanos como Quintiliano e Cícero, sobre o bom uso da figura. O estilo de Pérsio também não condiz com o que é esperado de um estoico, para quem um estilo simples e pouco ornado seria o ideal. Defendemos que Pérsio realiza uma revolução histórica do uso da metáfora e se afasta de um lugar-comum que associa a literatura ao prazer. Em suas sátiras, as condições médica e moral se confundem e a narrativa do adoecimento do corpo transforma-se em uma metáfora da degeneração da alma. As Sátiras, portanto, podem ser interpretadas como um remédio oferecido aos leitores e ouvintes que buscam a cura de seus vícios através da doutrina estoica e estão dispostos a encarar o amargo processo de cura oferecido por Pérsio através de seus versos enigmáticos.
Palavras-chave: Metáforas do corpo humano. Discurso médico. Estoicismo. Sátira romana. Aulo Pérsio Flaco.