A escrita de si na ficção brasileira contemporânea

Resumo: No circuito da ficção brasileira contemporânea, especialmente nas produções dos últimos vinte anos, há um enorme contingente de relatos em primeira pessoa que, de alguma forma, apontam para a figura extratextual do autor, operando uma autorreflexividade identificada em diferentes escalas.
Pretende-se, como escopo desta pesquisa, investigar a maneira como se configura hoje, em textos assumidamente ficcionais, essa primeira pessoa que, para se constituir, incorpora traços autobiográficos, numa época – a nossa – que já vivenciou a desconstrução do sujeito autoevidente, como um dos gestos ligados a um empreendimento maior, comprometido com a derrocada de valores universais e hegemônicos, de ressaibo metafísico. Em síntese, a perspectiva aqui firmada parte do pressuposto de que a impossibilidade de uma súmula dialética decorrente do trânsito vida e obra se encontra em consonância com um zeitgeist dominado pela falência do sujeito cartesiano.
O corpus literário desta pesquisa abarcará os seguintes romances: O falso mentiroso: memórias (2004), de Silviano Santiago, Nove noites (2002), de Bernardo Carvalho, Budapeste (2003), de Chico Buarque, e Berkeley em Bellagio (2003), de João Gilberto Noll. Obras como essas lançam mão, cada uma a seu modo, de estratégias autorreflexivas em suas composições, franqueando uma mútua permeabilidade entre autor, narrador e personagem. Encontramos aí desde a presença inequívoca, em maior ou menor grau, de marcas autorais, até sutis jogos especulares que visam a pôr em xeque a autoridade autoral daquele que assina a obra. De imediato, tais textos nos induzem a questões como: 1) superada a cisão dualista verdade x ficção, alçada ao umbral da indecidibilidade, que implicações decorrem dessas interrelações para a construção identitária da voz em primeira pessoa?; 2) que efeitos produzem nas categorias autor e narrador essa referencialidade inscrita no interior da ficção?
A fim de refletir sobre essas e outras questões que certamente o desenvolvimento da pesquisa engendrará, tendo na mira o desafio de examinar a constituição da primeira pessoa nas obras elencadas para estudo, nosso referencial teórico inclui pensadores como Roland Barthes, Michel Foucault, Jacques Derrida, Maurice Blanchot e Walter Benjamin, para mencionar apenas os mais importantes.

Data de início: 28/03/2011
Prazo (meses): 36

Participantes:

Papelordem decrescente Nome
Colaborador DAISE DE SOUZA PIMENTEL
Colaborador LUCAS DOS PASSOS E SILVA
Colaborador NELSON MARTINELLI FILHO
Coordenador FABÍOLA SIMÃO PADILHA TREFZGER
Transparência Pública
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