Uma poética de restos e de deslocamentos no romance A república dos sonhos, de Nélida Piñon.
Nome: NATHALIA RIBEIRO TRAVIA
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 30/03/2022
Orientador:
Nome | Papel |
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MARIA MIRTIS CASER | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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KARINA DE REZENDE-FOHRINGER | Examinador Externo |
LUÍS EUSTÁQUIO SOARES | Suplente Interno |
MARIA MIRTIS CASER | Orientador |
SILVANA ATHAYDE PINHEIRO | Suplente Externo |
VITOR CEI SANTOS | Examinador Interno |
Resumo: Esta dissertação investiga A república dos sonhos (2005 [1984]), de Nélida Piñon, sob a perspectiva do gênero e da memória. O romance apresenta um extenso e complexo enredo ─ concatenado a partir de narrativas em que a temática central identificada é a questão da nacionalidade ─ instituído pelo alcance da ótica de três narradores ─ um narrador feminino, um masculino, e um narrador não marcado, em terceira pessoa. NA república dos sonhos se
conhece, enquanto espaço dominante, um espaço familiar que, com seus agregados, combina origens brasileiras, galegas, ciganas e africanas. Dele foram estabelecidas gerações que apresentam, no plano individual, problemas em relação às definições do espaço histórico geográfico de uma nacionalidade. Em termos outros, cada geração enfrenta, a partir de formações culturais-discursivas heterogêneas, a questão da integração, da reintegração ou
mesmo da desintegração da vida social. O objetivo específico é identificar seus arquivos como articuladores de relatos, de vozes e de reminiscências do texto ficcional a fim de discutir, como objetivo geral, a constituição de uma poética de restos e de deslocamentos nas relações entre as personagens. Hipoteticamente, no texto nelidiano, o espaço que propõe a temática da
nacionalidade é chamado a república dos sonhos em que se discute que arquivos fixos e arquivos dispersos (Pedrosa et. al, 2018) são as memórias desse espaço. Nesse sentido, a análise presente do romance A república dos sonhos retoma linhas de pesquisa contemporâneas vinculadas à questões do gênero, como a crítica literária feminista de autoras como Naomi Moniz (1993), Sherry Almeida (2006), Susan Quinlan (2010), Maria Gonzalez (2016), etc. Categorias teórico-críticas de Gayatri Spivak (1994), Heleieth Saffioti (2013) e
Lélia Gonzalez (2020) destacam o impasse da (im)possibilidade do atributo de nacionalidade em ações das/nas personagens do imaginário nelidiano. Estas, por sua vez, sofrem, em atividade ou passividade, (des)locamentos (BHABHA, 1998) que levam ao tratamento poético dado por arquivos fixos ou dispersos da memória e da consciência, duas temáticas discutidas por Lélia Gonzalez (2020). Este trabalho é fundamentado nas categorias da ontologia social,
principalmente retomadas no pensamento ético-estético realista de György Lukács sobre a estética como alienação ou reificação, ambos considerados aqui dispositivos da consciência social. Intenta-se elaborar a interpretação analítica sob perspectiva de reflexão conjunta acerca de estratégias discursivas e categorias narrativas, (des)construídas por meio da configuração ficcional da nacionalidade. Como hipótese, investiga-se, a afirmação e transformação
simultânea do espaço histórico-geográfico por uma poética de restos e de deslocamentos no romance A república dos sonhos.