ESCRITURAS FEMINISTAS SUL-AMERICANAS: CORPOS, VOZES E
SENTIMENTOS EM LUISA VALENZUELA

Nome: LÍLIAN LIMA GONÇALVES DOS PRAZERES
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 14/03/2019
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
ADELIA MARIA MIGLIEVICH RIBEIRO Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ADELIA MARIA MIGLIEVICH RIBEIRO Orientador
GEAN PAULO GONÇALVES SANTANA Examinador Externo
IVANA TEIXEIRA FIGUEIREDO GUND Suplente Externo
LUIS FERNANDO BENEDUZI Examinador Interno
MARIA MIRTIS CASER Examinador Interno

Páginas

Resumo: A escrita de Luisa Valenzuela é terreno fértil para a crítica literária pois permite a realização
de inúmeros estudos acerca dos temas e das construções estéticas que perpassam sua
produção. Esta tese elegeu como objeto de investigação os corpos, vozes e sentimentos
das personagens femininas presentes na literatura de Luisa Valenzuela. Nesse sentido, a
pergunta que a orientou foi: como a escritura de Valenzuela pode ser ato de criação e de
resistência num tempo histórico marcado pelo silenciamento imposto pelo “terrorismo de
Estado” na Argentina? A pesquisa teve como objetivos: apresentar a biografia da escritora e
buscar eventuais conexões com a construção de suas personagens que protagonizam as
narrativas da autora, a fim de perceber a “estrutura de sentimentos”, categoria do crítico
literário galês, Raymond Williams, que forjou e no qual foi forjada uma geração de mulheres
escritoras submetidas ao (auto)exílio provocado pelos regimes políticos autoritários na
América Latina, nas décadas de 1960-80. A partir das teorias literárias feministas e da
perspectiva pós-colonial e decolonial, a tese intentou problematizar o “lugar de fala” da
autora sul-americana que escreve em espanhol e o modo como sua obra participa, de um
lado, da literatura feminista e, de outro, da prosa pós-boom de motivações políticas no
continente. Sua literatura foi vista ainda como uma literatura engajada por conta dos temas e
das discussões que suscita, aliando a ficção ao “teor testemunhal” (SELIGMANN-SILVA,
2003), e possibilitando um exercício crítico-reflexivo sobre um tempo cuja memória não deve
ser apagada. Deu-se centralidade ao livro Cambio de Armas, composto por cinco contos,
nos quais a autora, através de protagonistas femininas, ficcionaliza o período da ditadura e
as opressões vividas pelas mulheres inseridas na “colonialidade de gênero” (LUGONES,
2010), como uma inflexão do debate sobre as “colonialidades” trazido por Aníbal Quijano
(2013) e outros decoloniais. O percurso metodológico utilizado foi uma compilação da crítica
literária existente sobre a obra da escritora a fim de se tecer os primeiros diálogos. Ciente de
que não é possível fixar rótulos para a autora, pôde-se enfatizar seu enfrentamento pela
palavra do sistema repressivo pelo qual passou a Argentina e a peculiaridade de sua criação
artística, como o uso experimental da linguagem e das formas de narrar, em que os focos
narrativos distintos se mesclam, além da reverberação das vozes femininas silenciadas e do
acento no erotismo como recurso de libertação da mulher, em acordo com a “estrutura de
sentimentos” que ensejou a revolução feminista. Para a análise, também se fez uso da póscolonial Gayatri Spivak (2012) e da pós-estruturalista Judith Butler (1998), ambas a
aprofundar, à sua maneira, os “micropoderes” de Michel Foucault (1979). Os contos
analisados mostraram o corpo feminino como metáfora da pátria violentada sob o jugo do
Estado de Exceção argentino, que era também “masculino”. A capacidade das protagonistas
narrarem suas tragédias era, contudo, uma forma de resistir à condição de
subalternidade/colonialidade a que eram submetidas. Desde uma relação amorosa à
experiência da tortura política, os “deslocamentos” eram possíveis e abriam chances de
mudar a realidade e confrontar o sistema patriarcal. Desse modo, certificamos que, através
de uma literatura engajada, comprometida com a condição feminina de seu tempo,
Valenzuela preserva, nas linhas e entrelinhas de sua ficção, a memória dos sistemas de
opressão existentes na Argentina, e que também foram realidade comum a muitos outros
países da América Latina, que são a marca de sua literatura.
Palavras-chave: Luiza Valenzuela. Estruturas de Sentimentos. Memória. Feminismo.
Ditadura.

Acesso ao documento

Transparência Pública
Acesso à informação

© 2013 Universidade Federal do Espírito Santo. Todos os direitos reservados.
Av. Fernando Ferrari, 514 - Goiabeiras, Vitória - ES | CEP 29075-910