Dor que se desloca, desejo que se difunde: escritas, corpos e comunidades

Resumo: A literatura como política, como forma propositiva de pensar e de estar no mundo, está voltada para as ações cotidianas em sua potência de resistência e transformação. A literatura contemporânea olha seu tempo a partir de uma postura deslocada, procura dizer de um viver em que os modos de existir não são simples fatos dados, mas colocam questões políticas de responsabilidade — com o próprio sujeito, com o mundo e com o outro — que possibilitam o discurso, e também a comunidade. Não uma comunidade “positiva”, cabe esclarecer, uma comunidade em que são fundamentais os índices de pertencimento; uma comunidade unificada e homogênea que quer excluir o dissonante, eliminar as diferenças. A comunidade que se pretende identificar em narrativas brasileiras contemporâneas seria, de certa forma, uma “comunidade negativa”, que não aproxima os iguais buscando apagar as diferenças: trata-se, para além do encontro na negatividade ou no não-pertencimento, de uma comunidade marcada por uma ética da alteridade, que se abre para o outro. A relação irredutível com o outro, como nos fala Peter Pal Pelbart, “devasta a inteireza do sujeito, fazendo ruir sua identidade centrada e isolada, abrindo-o para uma exterioridade irrevogável, num inacabamento constitutivo”. Pois a “comunidade dos sem comunidade” constitui-se da heterogeneidade, da pluralidade. Pois cada escritor, cada obra literária, escreve Jean-Luc Nancy, “inaugura uma comunidade”, à qual pertence qualquer um que escreve, ou que leia, ou que apenas se exponha à palavra poética. Para caracterizar essa comunidade em devir, a que denomina a “comunidade que vem”, Agamben a define a partir do ser qualquer, “no seu ser tal qual é”. E destaca o desejo que está na formação mesma desta palavra: “o ser qual-quer estabelece uma relação original com o desejo”. Dessa forma, o que se busca analisar são as formas literárias que assumem o desejo de comunidade destes seres quais-quer que povoam nossa literatura.

Data de início: 06/06/2016
Prazo (meses): 60

Participantes:

Papelordem decrescente Nome
Coordenador RAFAELA SCARDINO LIMA PIZZOL
Transparência Pública
Acesso à informação

© 2013 Universidade Federal do Espírito Santo. Todos os direitos reservados.
Av. Fernando Ferrari, 514 - Goiabeiras, Vitória - ES | CEP 29075-910